
Estou no meu quarto, oiço a chuva. Está frio lá fora, os trovões fazem estremecer o meu quarto e a minha secretária, que tem uma garrafa, um copo, e um cigarro que queima pousado no cinzeiro. Penso em tudo o que fiz até hoje, e tudo o que sonho fazer no futuro. Penso se valeu tudo a pena, e se vale a pena o esforço que faço para obter um ''não fazes mais que a tua obrigação, vai ser assim a vida toda''. Penso no porquê das coisas serem todas lineares. Porque não ser diferente? Porque não fazer a diferença sendo nós próprios em vez de tentarmos agradar a sociedade? Para além de tudo isto há muito mais coisas em que penso, penso se algum dia vou poder dizer que sou inteiramente feliz, sem precisar do álcool, sem precisar de dormir para esquecer o que se passa à minha volta. Estou completamente consumido pelo som da chuva, mas não paro de pensar no porquê das coisas, no ''como'' das coisas. Como é que tudo se criou? Chegamos a um ponto de decadência e tristeza, que nada faz sentido nas nossas cabeças, para alem da musica calma e do fumo do cigarro que inalamos como se fosse oxigénio. Mesmo sabendo que toda a gente vai querer mudar aquilo que sou, mesmo sabendo que não estou enquadrado no padrão dos betos do licéu, dos cromos da faculdade, dos adolescentes em geral, eu sou eu e não vou mudar pela sociedade, enquanto a sociedade não mudar por mim, apenas vou continuar aqui, só, na secretária, a beber o meu wisky e fumar o meu cigarro, cantando letras e melodias perfeitas, à espera que tudo volte a ser fácil, como quando tinha 5 anos.