terça-feira, 28 de janeiro de 2014
Uma Carta
Sentado. Meio vivo, meio morto. Coço o nariz e humedeço os lábios. Sentado na cadeira, em frente deste papel que tens nas mãos. Cadeira de computador, daquelas pretas, deves conhecer. Pego na caneta e faço dela minha mensageira, encosta no papel com o peso das saudades que sinto tuas. Já não como. Já não durmo. Já não tenho vontade, aqui. Sem ti. Hoje esperei-te mais uma vez sentado no cadeirão da sala, aquele que a minha mãe trouxe da Tailândia. Fiquei lá, à espera que entrasses pela porta de trás com um monte de histórias para me contar. Foi mais um fracasso, de muitos outros anteriores. Espero todos os dias, nem que seja uma carta. Senta-te, sei que não gostas de escrever e não tens jeito com as palavras. És tão irritante nesse aspecto, que obstinação pá. Mas só quero saber que estás bem. Manda-me um ponto, mas não final, não quero que acabe. Só quero que voltes, logo, o mais depressa que puderes. Claro, se puderes. Gostava que pudesses. Para virmos brincar com os meus primos para o salão de jogos. Para irmos ao cinema e reclamar do barulho das pipocas a estalar na boca das pessoas. Vamos reclamar! Anda, tenho saudades de me dizer para deixar de ser preguiçoso e começar a lavar a loiça. Nunca lavava, e vou continuar sem lavar. Mas quero que puxes por mim, que eu já não posso mais. Mas a sério, vem. Eu preciso. Vá, agora vou fumar um cigarro e deitar-me. Estou cansado. Estou meio vivo meio morto. Diz-me qualquer coisa. Ou volta. Sim. Volta. Com amor.
